segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Série de Textos: Psicoterapias

Texto 7:
Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte IV

Nesse texto descreverei as duas ultimas Abordagens Psicoterápicas do Grupo II:

A PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA TRANSPESSOAL

A Psicologia Transpessoal é uma ciência que estuda o ser humano em sua totalidade. A visão de mulher e homem não se reduz ao ser na sociedade, mas em suas relações cósmicas e ecológicas. A psicologia transpessoal envolve também a física, química, matemática, antropologia, sociologia, astronomia, metafísica e a medicina, tornado-se intercultural.

A psicologia transpessoal tem embasamentos na psicanálise, psicologia analítica (Junguiana), behaviorismo, psicologia humanista, e, especificamente estuda estados de consciência que transcendem a pessoa e o conceito do ego. Sendo assim, muito bem definida como o estudo científico de estados de consciência.

A psicologia transpessoal se faz em um modelo muito idêntico aos moldes quanta-relativístico da física moderna sub-atômica (Matos, 1978), no qual, estes procuram oferecer uma visão integrada da teoria de quantum e relatividade. O universo todo (matéria/energia) esta em constante mudança e é indivisível, sendo uma entidade dinâmica. Capra (1975) diz:

“Na física moderna, o universo é então experienciado como um todo dinâmico e inseparável que sempre inclui o observado de uma maneira essencial. Nesta experiência os conceitos tradicionais de espaço e tempo, de objetos isolados, e causa e efeito, perdem o seu sentido.”

A Psicologia Transpessoal é tão remota quanto a humanidade, e este “approach” cósmico para o entendimento do homem já era exercitado a mais de 5000 anos pelas civilizações pré-colombianas da América, na Índia, no Tibete e pelos antigos egípcios.

A Psicologia Transpessoal, no ocidente, foi constituída por um grupo de cientistas que perceberam a grande importância para o ramo da ciência do comportamento humano estudar e colocar em prática vários níveis de consciência, ocupando-se do estudo científico empírico, e da implementação responsável de descobertas científicas proeminentes para: meta-necessidade (sociais e individuais), caminhos espirituais, consciência unitiva, valores supremos, experiências de topo, êxtase, valores-B, experiências místicas compaixão, bem-aventurança, essência, auto-atualização, o sentido final de tudo, unicidade, transcendência do “self” e do espírito, sinergia individual e total das espécies, consciência cósmica, sacralização da vida de cada dia, teorias e práticas de meditação, auto-humor cósmico, habilidade de desfrutar a vida de uma maneira positiva, fenômenos transcendentais, etc.

O processo da Psicoterapia Transpessoal, tendo por referencial o ‘spectrum’ total de níveis da consciência, mostra que a evolução humana ou o desenvolvimento psicológico ocorre em estágios de crescente integração e transcendência em direção à totalidade (Deus, Cosmos ou Atman).

O contexto da psicoterapia pode ser visto como uma oportunidade para o homem ver e vivenciar o mundo transpessoalmente, isto é, além da mera identidade pessoal ou da história biográfica.

O processo psicoterapêutico transpessoal desenvolve-se então em duas etapas interligadas:

1) Crescimento Pessoal: 
.Representado pelas experiências da pessoa como entidade diferenciada;
.Requer trabalho de integração da personalidade individual em seus níveis, físico, emocional e mental. A personalidade deverá harmonizar-se e para que o Self possa estabelecer sua ação sobre a personalidade, temos que equilibrá-Ia e, assim colaborar para que o Self se integre.
.Meta: realização pessoal.

2) Crescimento Transpessoal:
.Representado pelas experiências do indivíduo como parte integrante de um “todo” maior. Essas experiências implicam na expansão da consciência além das limitações do ego e das limitações de tempo e espaço como são percebidas na consciência comum ou de vigília;
.O trabalho deste nível requer a desidentificação com as restrições da personalidade individual;
.Meta: auto-consciência.

Esses dois crescimentos, o pessoal e o transpessoal são vistos como distintos, mas não podem ser separados, ou seja, o trabalho de conexão entre a consciência pessoal e a transpessoal é fundamental quando o resultado que se espera é a integração total ou holística da pessoa. Holístico vem do grego Holos ­significa todo, inteiro.


A PSICOTERAPIA EXPERIENCIAL DE E. GENDLIN

Em 1957, Eugene Gendlin dá origem a teoria experiencial, primeiro, mostra a especificidade da psicoterapia existencial para, em seguida, apresentar sua compreensão do que seja a psicoterapia experiencial. A terapia existencial é uma terapia relacional, paciente e terapeuta, vivem para além das estruturas. As pessoas são existências, não definições. A busca das soluções entre o cliente e o seu terapeuta não está no passado nem no interior da pessoa, mas em viver radicalmente aberto às alternativas da existência.

Já a Psicoterapia Experiencial trabalha com algo mais concreto, isto é, não busca as emoções nem as palavras, mas sim se preocupa em explicitar “um sentimento direto da complexidade das situações e de suas dificuldades”.

Concluímos que Gendlin está preocupado em localizar, no ser humano, e trabalhar com isso, um aspecto pré-verbal da vivência. Logo, seu trabalho é com o pré-conceitual, o pré-verbal, o corporal, pois o que lhe provoca a mudança é ajudar o cliente a entrar em contato com essa realidade mais concreta, e não com as elaborações conceituais.
 
A teoria e prática de Gendlin estão inseridas nas chamadas pisco- corpo – terapias e na psicoterapia contemporânea.  Desde o início da psicanálise, a maioria das terapias era verbal. A palavra foi o veículo para trazer as memórias de experiência ou expressar emoções, usando a palavra para interpretar (psicanálise), utilizado para ação de condicionamento (behaviorismo) para a imagem guiada (cognitivismo, sonho dirigido) ou para o reflexo do sentimento (Rogers).

Os anos 70 foi uma recuperação do corpo para a psicologia e também para a psicoterapia. Poderíamos resumir em um slogan: "Além de a palavra é o corpo. E mais aquém da palavra, também é o corpo.” Mesmo tendo uma teoria da personalidade e cambio terapêutico, mas sempre com o corpo experimentado e analisado como ponto de referência da tarefa terapêutica.

Próximo e ultimo texto da série, descreverei sobre a Psicanálise que está inclusa no Grupo III da classificação das Abordagens.
 
Rodrigo Lupes
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

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