Série de Textos: Psicoterapias
Texto 6:
Conhecendo algumas Abordagens de
Psicoterapia – Parte III
Dando continuidade as Abordagens
do Grupo II temos:
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA
É uma abordagem das relações interpessoais
desenvolvida pelo psicólogo americano Carl Rogers (1902-1987), um dos mais
renomados psicólogos do século XX e um pioneiro na pesquisa científica em
psicoterapia.
O pressuposto fundamental da
Abordagem Centrada na Pessoa é que em todo indivíduo existe uma tendência
atualizadora, uma tendência inerente ao organismo para crescer, desenvolver e
atualizar suas potencialidades numa direção positiva e construtiva.
A hipótese central da abordagem
centrada na pessoa é a de que o indivíduo possui dentro de si mesmo vastos
recursos para a auto-compreensão e para alterar o seu auto-conceito, suas
atitudes básicas e seu comportamento auto-dirigido, e estes recursos podem ser
liberados se um clima definido de atitudes psicológicas facilitadoras puder ser
oferecido.
Segundo Rogers, as atitudes
psicológicas facilitadoras que promovem a liberação da tendência atualizadora
são:
Congruência – Ser congruente em
uma relação significa ser uma pessoa integrada, com a sua experiência real
acuradamente representada em sua consciência. A pessoa está congruente quando
ela está sendo livre e profundamente ela mesma, quando está vivenciando
abertamente os sentimentos e atitudes que estão fluindo de dentro dela. Ser
congruente, portanto, significa ser real e genuíno.
Consideração positiva
incondicional – Ter uma experiência de consideração positiva incondicional em
relação a outra pessoa significa aceitar calorosamente cada aspecto da
experiência desta pessoa. Significa não colocar condições para a aceitação ou
para a apreciação desta pessoa. A consideração positiva incondicional implica
um cuidado não-possessivo, uma forma de apreciar o outro como uma pessoa
individualizada a quem se permite ter os seus próprios sentimentos, suas
próprias experiências.
Compreensão empática –
Compreender empaticamente significa perceber acuradamente o quadro interno de
referência da outra pessoa como se fosse o seu próprio, com os seus
significados e componentes emocionais, sem, contudo, perder a condição de “como
se”.
Segundo Rogers, estas condições
promovem a atualização do indivíduo em qualquer relacionamento interpessoal,
seja no relacionamento terapeuta e cliente, pai e filho, líder e grupo,
professor e aluno, administrador e equipe, isto é, em qualquer situação cujo
objetivo seja o desenvolvimento da pessoa. Por este motivo, o campo de
aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa é bastante amplo, incluindo as áreas
da psicoterapia, educação, resolução de conflitos, relações familiares, grupos
de encontro, grupos de crescimento e grandes grupos de comunidade. (do site do
VI Fórum Brasileiro da ACP – Canela-RS – 2005)
"Sinto-me mais feliz
simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos." (Carl
Rogers)
ABORDAGEM GESTALT-TERAPIA
A Gestalt-Terapia que têm Perls
como criador, apresenta-se como uma abordagem fenomenológico-existencial, ou
seja, uma psicoterapia vivencial que ressalta a consciência do aqui-e-agora,
através do foco de como o fenômeno nos é apresentado, muito mais do que no por
quê. Perls coloca que antes de procurarmos as coisas que porventura estejam por
detrás, melhor faremos se focalizarmos nossa atenção no que está ali, dado,
presente, visível. Além de quê, nisto que está aí, neste óbvio, certamente
também estão presentes elementos do que possa estar por detrás. A
Gestalt-Terapia é uma atitude de re-descobrir aquilo que está ali, sem a
priori, é uma atitude de lidar com o novo como novo, é uma atitude de nada
afirmar nem negar.
Para a Gestalt, o homem sempre
está em processo de desenvolvimento, sendo a noção de processo algo que está em
permanente movimento, em constante mudança. Trabalhamos para promover o
processo de crescimento e desenvolver o potencial humano, a tentativa é de
ampliar este potencial, através do processo de integração. Assim, integrando as
partes conhecidas e desconhecidas, partes que aceitamos e negamos em nós
mesmos, vamos nos tornando aquilo que realmente somos, e consequentemente, a
vida flui de forma mais saudável. “Nós fazemos isso apoiando os interesses,
desejos, e necessidades genuínas do indivíduo”. (Perls, 1977, p.19).
A Gestalt-Terapia é considerada
uma terapia do contato, onde acreditamos que a todo o momento estamos em
contato com o meio, e por meio deste que o funcionamento humano pode tornar-se
saudável ou disfuncional. É através do contato que nos damos conta de nosso
processo, e que podemos ser criativos na forma de ver o mundo e de fazer
escolhas na vida.
Desta forma, no trabalho clínico,
busca-se uma ampliação da consciência do indivíduo sobre seu próprio
funcionamento, ou seja, uma awareness sobre como ele funciona, como se
interrompe no seu processo de contato consigo e com o mundo, quais as suas
tentativas para alcançar seu próprio equilíbrio, tomando suas próprias decisões
e efetuando escolhas que atendam as suas reais necessidades. Desta maneira, é
importante que o indivíduo assuma suas responsabilidades diante de suas
escolhas, diante de sua vida. Conforme ele vai se conscientizando de suas
escolhas, de seu modo de viver, é possível, então, realizar mudanças, pois acreditamos
que através do contato, a mudança simplesmente ocorre.
Enfim, a Gestalt-Terapia promove
novas formas de olhar para a vida, onde nada é definitivo, existem sempre
possibilidades a serem exploradas, escolhas novas a serem feitas. A aceitação
genuína de nossa forma de funcionar, nos permite enfrentar as situações com
mais criatividade e mais leveza, com a certeza de que sempre fazemos o melhor
naquele momento.
“Gestalt-Terapia, embora
formalmente apresentada como um tipo de psicoterapia, é baseada em princípios
que são considerados como uma forma saudável de vida. Em outras palavras, é
primeiro uma filosofia de vida, uma forma de ser, e com base nisto, há maneiras
de aplicar este conhecimento de forma que outras pessoas possam beneficiar-se
dele. Gestalt-Terapia é a organização prática da filosofia da Gestalt.
Felizmente o gestalt-terapeuta é antes identificado por quem ele é como pessoa,
do que pelo que é ou faz.” (Perls, op.cit, p. 14).
Próximo texto, descreverei sobre as
ultimas Abordagens do Grupo II: Psicoterapia Experiencial e a Abordagem
Transpessoal.
Rodrigo Lupes
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta
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