sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Série de Textos: Psicoterapias

Texto 6:

Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte III

Dando continuidade as Abordagens do Grupo II temos:

ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

 É uma abordagem das relações interpessoais desenvolvida pelo psicólogo americano Carl Rogers (1902-1987), um dos mais renomados psicólogos do século XX e um pioneiro na pesquisa científica em psicoterapia.

O pressuposto fundamental da Abordagem Centrada na Pessoa é que em todo indivíduo existe uma tendência atualizadora, uma tendência inerente ao organismo para crescer, desenvolver e atualizar suas potencialidades numa direção positiva e construtiva.

A hipótese central da abordagem centrada na pessoa é a de que o indivíduo possui dentro de si mesmo vastos recursos para a auto-compreensão e para alterar o seu auto-conceito, suas atitudes básicas e seu comportamento auto-dirigido, e estes recursos podem ser liberados se um clima definido de atitudes psicológicas facilitadoras puder ser oferecido.
Segundo Rogers, as atitudes psicológicas facilitadoras que promovem a liberação da tendência atualizadora são:

Congruência – Ser congruente em uma relação significa ser uma pessoa integrada, com a sua experiência real acuradamente representada em sua consciência. A pessoa está congruente quando ela está sendo livre e profundamente ela mesma, quando está vivenciando abertamente os sentimentos e atitudes que estão fluindo de dentro dela. Ser congruente, portanto, significa ser real e genuíno.

Consideração positiva incondicional – Ter uma experiência de consideração positiva incondicional em relação a outra pessoa significa aceitar calorosamente cada aspecto da experiência desta pessoa. Significa não colocar condições para a aceitação ou para a apreciação desta pessoa. A consideração positiva incondicional implica um cuidado não-possessivo, uma forma de apreciar o outro como uma pessoa individualizada a quem se permite ter os seus próprios sentimentos, suas próprias experiências.

Compreensão empática – Compreender empaticamente significa perceber acuradamente o quadro interno de referência da outra pessoa como se fosse o seu próprio, com os seus significados e componentes emocionais, sem, contudo, perder a condição de “como se”.

Segundo Rogers, estas condições promovem a atualização do indivíduo em qualquer relacionamento interpessoal, seja no relacionamento terapeuta e cliente, pai e filho, líder e grupo, professor e aluno, administrador e equipe, isto é, em qualquer situação cujo objetivo seja o desenvolvimento da pessoa. Por este motivo, o campo de aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa é bastante amplo, incluindo as áreas da psicoterapia, educação, resolução de conflitos, relações familiares, grupos de encontro, grupos de crescimento e grandes grupos de comunidade. (do site do VI Fórum Brasileiro da ACP – Canela-RS – 2005)

"Sinto-me mais feliz simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos." (Carl Rogers)


ABORDAGEM GESTALT-TERAPIA


A Gestalt-Terapia que têm Perls como criador, apresenta-se como uma abordagem fenomenológico-existencial, ou seja, uma psicoterapia vivencial que ressalta a consciência do aqui-e-agora, através do foco de como o fenômeno nos é apresentado, muito mais do que no por quê. Perls coloca que antes de procurarmos as coisas que porventura estejam por detrás, melhor faremos se focalizarmos nossa atenção no que está ali, dado, presente, visível. Além de quê, nisto que está aí, neste óbvio, certamente também estão presentes elementos do que possa estar por detrás. A Gestalt-Terapia é uma atitude de re-descobrir aquilo que está ali, sem a priori, é uma atitude de lidar com o novo como novo, é uma atitude de nada afirmar nem negar.

Para a Gestalt, o homem sempre está em processo de desenvolvimento, sendo a noção de processo algo que está em permanente movimento, em constante mudança. Trabalhamos para promover o processo de crescimento e desenvolver o potencial humano, a tentativa é de ampliar este potencial, através do processo de integração. Assim, integrando as partes conhecidas e desconhecidas, partes que aceitamos e negamos em nós mesmos, vamos nos tornando aquilo que realmente somos, e consequentemente, a vida flui de forma mais saudável. “Nós fazemos isso apoiando os interesses, desejos, e necessidades genuínas do indivíduo”. (Perls, 1977, p.19).

A Gestalt-Terapia é considerada uma terapia do contato, onde acreditamos que a todo o momento estamos em contato com o meio, e por meio deste que o funcionamento humano pode tornar-se saudável ou disfuncional. É através do contato que nos damos conta de nosso processo, e que podemos ser criativos na forma de ver o mundo e de fazer escolhas na vida.

Desta forma, no trabalho clínico, busca-se uma ampliação da consciência do indivíduo sobre seu próprio funcionamento, ou seja, uma awareness sobre como ele funciona, como se interrompe no seu processo de contato consigo e com o mundo, quais as suas tentativas para alcançar seu próprio equilíbrio, tomando suas próprias decisões e efetuando escolhas que atendam as suas reais necessidades. Desta maneira, é importante que o indivíduo assuma suas responsabilidades diante de suas escolhas, diante de sua vida. Conforme ele vai se conscientizando de suas escolhas, de seu modo de viver, é possível, então, realizar mudanças, pois acreditamos que através do contato, a mudança simplesmente ocorre.

Enfim, a Gestalt-Terapia promove novas formas de olhar para a vida, onde nada é definitivo, existem sempre possibilidades a serem exploradas, escolhas novas a serem feitas. A aceitação genuína de nossa forma de funcionar, nos permite enfrentar as situações com mais criatividade e mais leveza, com a certeza de que sempre fazemos o melhor naquele momento.

“Gestalt-Terapia, embora formalmente apresentada como um tipo de psicoterapia, é baseada em princípios que são considerados como uma forma saudável de vida. Em outras palavras, é primeiro uma filosofia de vida, uma forma de ser, e com base nisto, há maneiras de aplicar este conhecimento de forma que outras pessoas possam beneficiar-se dele. Gestalt-Terapia é a organização prática da filosofia da Gestalt. Felizmente o gestalt-terapeuta é antes identificado por quem ele é como pessoa, do que pelo que é ou faz.” (Perls, op.cit, p. 14).

Próximo texto, descreverei sobre as ultimas Abordagens do Grupo II: Psicoterapia Experiencial e a Abordagem Transpessoal. 
  
Rodrigo Lupes

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Série de Textos: Psicoterapias


Texto 5:

Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte II

As abordagens podem ser classificadas em três grandes grupos, a partir de seus entendimentos de mundo e de homem, o que resultará em demarcações de objetos próprios de trabalho e técnicas específicas dentro de cada grupo. Já citei uma abordagem do Grupo I no texto 4 e nesse falarei do Grupo II no qual pertencem as abordagens com foco sobre a experiência e sobre a existência, estabelecendo dois subgrupos: as Fenomenológica/Existenciais e as Humanistas.

No Subgrupo Fenomenológico/Existenciais:

ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL

As pessoas experimentam o mundo de forma diferente e única. Por mais que procuremos encontrar uma correlação, por menor que seja, que nos surpreenda com a possibilidade de vivenciarmos algo idêntico ao outro, nos decepcionamos, pois as percepções continuarão únicas. Esta sensação pode nos trazer a experiência de que estamos sós, porém, pode também, contribuir em perceber o universo de possibilidades que o ato de viver nos presenteia.

Fenomenologia existencial é uma forma de se pensar o mundo, surgida na filosofia. Não se tem somente uma pessoa responsável por tal pensamento. É um movimento que foi surgindo na Europa, sobretudo após as grandes guerras, havendo vários pensadores que contribuíram na edificação da mesma.

Como fenomenologia entende-se o processo de se perceber o fenômeno tal como ele se apresenta e seus fundamentos. Para tanto existe a predisposição de se retirar dos fenômenos, todo e qualquer expectativa que o observador possa ter acerca do mesmo, bem como todas as interpretações, estudos e pré-conceitos acerca do fenômeno que surge. É possibilitar que o ser surja e mostre-se como realmente é.

Existencial é a forma de perceber o humano através da sua própria existência. Temos uma concepção de pensar formulada pelo pensamento judaico/cristão, onde parte-se do princípio que a essência precede a existência. Isto é, parte-se do pressuposto que o ser humano e a sua alma sejam pré-concebidas como surgidas já na sua magnitude, e completa. Acredita-se que a essência é completa e nata. Assim, a existência é decorrência desta essência e que a experiência da existência não a complementa ou a constrói.

Na visão existencial, a percepção é de que a essência não é nata e que o ser humano, o indivíduo, a pessoa, se constrói a partir de sua existência, de suas escolhas e das consequências do seu existir.

Nesta forma de pensar, o homem é o responsável pelo seu destino, destino este que ocorre como consequência de escolhas na construção de si mesmo.

O paradoxo torna-se a identidade do sujeito, sendo a angústia o sentimento que permeia as escolhas, pois nos tornamos “culpados” ao decidir em extinguir o que não foi escolhido, e responsáveis pelas consequências. O que nos torna livres, porém, não somos livres em não escolher sermos livres. Aqui Sartre diz que “somos condenados à liberdade”.

Psicoterapia Fenomenológico-Existencial é uma terapia na qual o paciente reflete sobre suas atitudes, sua própria fala, participa ativamente do processo de atendimento, buscando e encontrando maneiras de relacionar-se consigo e com o mundo de forma mais agradável e menos sofrida. Percebe as suas qualidades, seu potencial individual e suas formas de modificar e viver diante desse mundo, valorizando assim sua existência.

Ouvir a angústia do outro não em forma de cura e remoção de sintomas, mas ouvir e compreender o sentimento e sofrimento do outro. O terapeuta tem a postura de fazer com que o paciente entre em contato com suas angustias e sofrimento, dando um sentido, significado e esclarecimento desses sentimentos, focando na vontade de constantes mudanças, sair ou amenizar esse sofrimento, entender o que realmente está sentindo e a relação com sua existência no mundo e em si mesmo.

No atendimento o paciente se vê como sendo compreendido por outra pessoa igual e ele, mesmo que este seja seu terapeuta, inicia um diálogo que vai além de uma interpretação, testes e observações psicológicas, pois o terapeuta escuta de forma que se sensibiliza com o sofrimento ou queixa do outro, quando isso ocorre o paciente sente-se ouvido por completo, é como se o terapeuta entendesse realmente o tamanho de sua angústia e sofrimento.

Assim a principal diferença da psicoterapia fenomenológica existencial é compreender e perceber que os problemas, sofrimentos e angústia do outro tem coisas comum com o meu próprio mundo, assim ao ouvi-lo podemos realizar questionamentos de nosso próprio mundo aproximando-se assim de uma maior compreensão do mundo e da angústia do outro.

Tem como foco o cuidado com a existência do outro, fazer com que o paciente perceba a importância de sua existência, de sua liberdade, bem como da sua identidade, ser único que tem criatividade e diversas formas e caminhos de enfrentar e viver a vida. Compreender-se como homem, um ser do mundo, que tem sua individualidade e coletividade diante de suas relações com os outros.

Nos textos a seguir descreverei mais abordagens do grupo II

Rodrigo Lupes

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta