quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Série de Textos: Psicoterapias


Texto 5:

Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte II

As abordagens podem ser classificadas em três grandes grupos, a partir de seus entendimentos de mundo e de homem, o que resultará em demarcações de objetos próprios de trabalho e técnicas específicas dentro de cada grupo. Já citei uma abordagem do Grupo I no texto 4 e nesse falarei do Grupo II no qual pertencem as abordagens com foco sobre a experiência e sobre a existência, estabelecendo dois subgrupos: as Fenomenológica/Existenciais e as Humanistas.

No Subgrupo Fenomenológico/Existenciais:

ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL

As pessoas experimentam o mundo de forma diferente e única. Por mais que procuremos encontrar uma correlação, por menor que seja, que nos surpreenda com a possibilidade de vivenciarmos algo idêntico ao outro, nos decepcionamos, pois as percepções continuarão únicas. Esta sensação pode nos trazer a experiência de que estamos sós, porém, pode também, contribuir em perceber o universo de possibilidades que o ato de viver nos presenteia.

Fenomenologia existencial é uma forma de se pensar o mundo, surgida na filosofia. Não se tem somente uma pessoa responsável por tal pensamento. É um movimento que foi surgindo na Europa, sobretudo após as grandes guerras, havendo vários pensadores que contribuíram na edificação da mesma.

Como fenomenologia entende-se o processo de se perceber o fenômeno tal como ele se apresenta e seus fundamentos. Para tanto existe a predisposição de se retirar dos fenômenos, todo e qualquer expectativa que o observador possa ter acerca do mesmo, bem como todas as interpretações, estudos e pré-conceitos acerca do fenômeno que surge. É possibilitar que o ser surja e mostre-se como realmente é.

Existencial é a forma de perceber o humano através da sua própria existência. Temos uma concepção de pensar formulada pelo pensamento judaico/cristão, onde parte-se do princípio que a essência precede a existência. Isto é, parte-se do pressuposto que o ser humano e a sua alma sejam pré-concebidas como surgidas já na sua magnitude, e completa. Acredita-se que a essência é completa e nata. Assim, a existência é decorrência desta essência e que a experiência da existência não a complementa ou a constrói.

Na visão existencial, a percepção é de que a essência não é nata e que o ser humano, o indivíduo, a pessoa, se constrói a partir de sua existência, de suas escolhas e das consequências do seu existir.

Nesta forma de pensar, o homem é o responsável pelo seu destino, destino este que ocorre como consequência de escolhas na construção de si mesmo.

O paradoxo torna-se a identidade do sujeito, sendo a angústia o sentimento que permeia as escolhas, pois nos tornamos “culpados” ao decidir em extinguir o que não foi escolhido, e responsáveis pelas consequências. O que nos torna livres, porém, não somos livres em não escolher sermos livres. Aqui Sartre diz que “somos condenados à liberdade”.

Psicoterapia Fenomenológico-Existencial é uma terapia na qual o paciente reflete sobre suas atitudes, sua própria fala, participa ativamente do processo de atendimento, buscando e encontrando maneiras de relacionar-se consigo e com o mundo de forma mais agradável e menos sofrida. Percebe as suas qualidades, seu potencial individual e suas formas de modificar e viver diante desse mundo, valorizando assim sua existência.

Ouvir a angústia do outro não em forma de cura e remoção de sintomas, mas ouvir e compreender o sentimento e sofrimento do outro. O terapeuta tem a postura de fazer com que o paciente entre em contato com suas angustias e sofrimento, dando um sentido, significado e esclarecimento desses sentimentos, focando na vontade de constantes mudanças, sair ou amenizar esse sofrimento, entender o que realmente está sentindo e a relação com sua existência no mundo e em si mesmo.

No atendimento o paciente se vê como sendo compreendido por outra pessoa igual e ele, mesmo que este seja seu terapeuta, inicia um diálogo que vai além de uma interpretação, testes e observações psicológicas, pois o terapeuta escuta de forma que se sensibiliza com o sofrimento ou queixa do outro, quando isso ocorre o paciente sente-se ouvido por completo, é como se o terapeuta entendesse realmente o tamanho de sua angústia e sofrimento.

Assim a principal diferença da psicoterapia fenomenológica existencial é compreender e perceber que os problemas, sofrimentos e angústia do outro tem coisas comum com o meu próprio mundo, assim ao ouvi-lo podemos realizar questionamentos de nosso próprio mundo aproximando-se assim de uma maior compreensão do mundo e da angústia do outro.

Tem como foco o cuidado com a existência do outro, fazer com que o paciente perceba a importância de sua existência, de sua liberdade, bem como da sua identidade, ser único que tem criatividade e diversas formas e caminhos de enfrentar e viver a vida. Compreender-se como homem, um ser do mundo, que tem sua individualidade e coletividade diante de suas relações com os outros.

Nos textos a seguir descreverei mais abordagens do grupo II

Rodrigo Lupes

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

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