Série de Textos: Psicoterapias
Texto 5:
Conhecendo algumas Abordagens de
Psicoterapia – Parte II
As abordagens podem ser
classificadas em três grandes grupos, a partir de seus entendimentos de mundo e
de homem, o que resultará em demarcações de objetos próprios de trabalho e
técnicas específicas dentro de cada grupo. Já citei uma abordagem do Grupo I no texto 4 e nesse falarei do Grupo II no qual pertencem as abordagens com foco sobre a
experiência e sobre a existência, estabelecendo dois subgrupos: as Fenomenológica/Existenciais e as Humanistas.
No Subgrupo Fenomenológico/Existenciais:
ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL
As pessoas experimentam o mundo
de forma diferente e única. Por mais que procuremos encontrar uma correlação,
por menor que seja, que nos surpreenda com a possibilidade de vivenciarmos algo
idêntico ao outro, nos decepcionamos, pois as percepções continuarão únicas.
Esta sensação pode nos trazer a experiência de que estamos sós, porém, pode
também, contribuir em perceber o universo de possibilidades que o ato de viver
nos presenteia.
Fenomenologia existencial é uma
forma de se pensar o mundo, surgida na filosofia. Não se tem somente uma pessoa
responsável por tal pensamento. É um movimento que foi surgindo na Europa,
sobretudo após as grandes guerras, havendo vários pensadores que contribuíram
na edificação da mesma.
Como fenomenologia entende-se o
processo de se perceber o fenômeno tal como ele se apresenta e seus
fundamentos. Para tanto existe a predisposição de se retirar dos fenômenos,
todo e qualquer expectativa que o observador possa ter acerca do mesmo, bem
como todas as interpretações, estudos e pré-conceitos acerca do fenômeno que
surge. É possibilitar que o ser surja e mostre-se como realmente é.
Existencial é a forma de perceber
o humano através da sua própria existência. Temos uma concepção de pensar
formulada pelo pensamento judaico/cristão, onde parte-se do princípio que a essência
precede a existência. Isto é, parte-se do pressuposto que o ser humano e a sua
alma sejam pré-concebidas como surgidas já na sua magnitude, e completa.
Acredita-se que a essência é completa e nata. Assim, a existência é decorrência
desta essência e que a experiência da existência não a complementa ou a
constrói.
Na visão existencial, a percepção
é de que a essência não é nata e que o ser humano, o indivíduo, a pessoa, se
constrói a partir de sua existência, de suas escolhas e das consequências do seu
existir.
Nesta forma de pensar, o homem é o
responsável pelo seu destino, destino este que ocorre como consequência de
escolhas na construção de si mesmo.
O paradoxo torna-se a identidade
do sujeito, sendo a angústia o sentimento que permeia as escolhas, pois nos tornamos
“culpados” ao decidir em extinguir o que não foi escolhido, e responsáveis
pelas consequências. O que nos torna livres, porém, não somos livres em não
escolher sermos livres. Aqui Sartre diz que “somos condenados à liberdade”.
Psicoterapia
Fenomenológico-Existencial é uma terapia na qual o paciente reflete sobre suas
atitudes, sua própria fala, participa ativamente do processo de atendimento,
buscando e encontrando maneiras de relacionar-se consigo e com o mundo de forma
mais agradável e menos sofrida. Percebe as suas qualidades, seu potencial
individual e suas formas de modificar e viver diante desse mundo, valorizando
assim sua existência.
Ouvir a angústia do outro não em
forma de cura e remoção de sintomas, mas ouvir e compreender o sentimento e
sofrimento do outro. O terapeuta tem a postura de fazer com que o paciente
entre em contato com suas angustias e sofrimento, dando um sentido, significado
e esclarecimento desses sentimentos, focando na vontade de constantes mudanças,
sair ou amenizar esse sofrimento, entender o que realmente está sentindo e a
relação com sua existência no mundo e em si mesmo.
No atendimento o paciente se vê
como sendo compreendido por outra pessoa igual e ele, mesmo que este seja seu
terapeuta, inicia um diálogo que vai além de uma interpretação, testes e
observações psicológicas, pois o terapeuta escuta de forma que se sensibiliza
com o sofrimento ou queixa do outro, quando isso ocorre o paciente sente-se
ouvido por completo, é como se o terapeuta entendesse realmente o tamanho de
sua angústia e sofrimento.
Assim a principal diferença da
psicoterapia fenomenológica existencial é compreender e perceber que os
problemas, sofrimentos e angústia do outro tem coisas comum com o meu próprio
mundo, assim ao ouvi-lo podemos realizar questionamentos de nosso próprio mundo
aproximando-se assim de uma maior compreensão do mundo e da angústia do outro.
Tem como foco o cuidado com a
existência do outro, fazer com que o paciente perceba a importância de sua
existência, de sua liberdade, bem como da sua identidade, ser único que tem
criatividade e diversas formas e caminhos de enfrentar e viver a vida.
Compreender-se como homem, um ser do mundo, que tem sua individualidade e
coletividade diante de suas relações com os outros.
Nos textos a seguir descreverei mais
abordagens do grupo II
Rodrigo Lupes
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta
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